quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Coexistência

Três meses. Foram três meses nossos. Só nossos. Sem tempo, relógio, limite. Eu e você sem tréguas, sem dias só meus ou só teus, como uma despedida. E neste entre mundos, o que ainda não havíamos vivenciado: dias seguintes. Eternos dias seguintes como um pedaço de vida, uma vida que acordou assustada, confusa e desamparada quando viu a sua ausência e o quarto vazio. Vazio da própria vida, da outra vida e das duas juntas. Vida! Juntos! Eternidade...


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Oscilações


Um dia desses, você vai encontrar o amor da sua vida. Vai fazer as mais belas juras de amor, vai enlouquecer, vai se sacrificar e escrever o nome amado nas estrelas jurando que o amor é a energia que move o mundo. No dia seguinte você vai se decepcionar, vai gritar e jurar que o amor é o sofrimento constante da alma. Depois de alguns anos nas costas você vai desistir de significar o amor. Vai concluir que não há conclusão e vai continuar vivendo e sentindo involuntariamente como sempre fez.


Um dia desses, você vai ler esse texto. Vai concordar com tudo que está escrito, vai se encontrar nas palavras e compartilhar com um amigo. Depois de mais alguns dias desses, você vai se desencontrar dessas palavras. Vai discordar de tudo, apontar alguns erros de português e apagar esse amontoado de besteiras do seu precioso perfil naquela badalada rede social. 

Um dia desses, você vai acordar e vai desejar não ter acordado. Vai folhear uma autoajuda, encenar um drama e se abrigar nas próprias lamentações. Outro dia desses, você vai acordar com o próprio sol na testa.  Vai sorrir para o porteiro, dar bom dia ao padeiro e dançar nas avenidas.  Depois de alguns desses dias, você vai se sentir exausto com tantas oscilações e, no auge de suas conjeturas, vai se convencer de que a vida é a bipolaridade cotidiana de uma humanidade obcecada por estabilidade. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

À flor da pele



Você sofre, grita, corre, chora e ri sem saber por que ou por quem. É um desses vícios da vida, como heroína ou cocaína, como chocolate ou tequila, como qualquer outra coisa que faz seus pés saírem do chão para logo depois te colocar no fundo do poço.  É sentimento. Mais forte que cocaína, mais destrutivo que heroína, mais prazeroso que chocolate e desce em um só gole como tequila.

E lá vai você, outra vez, correr atrás de qualquer sensação, de qualquer emoção que carregue o âmago com adrenalina. Então você sofre, grita, chora e ri de novo, alegando que é tudo diferente.   O que diferencia? Você não sabe explicar, você apenas sente. É sentimento. Não tem explicação, não cabe em prosa, dissertação ou verso, não é discurso.

Por fim, não tem fim. Você percebe que a ânsia está dentro de não sabe onde, lá nos cantos intocáveis do ser.  Você continua tomando suas doses, sentido suas dores, cultivando seus amores e cedendo ao mais tempestuoso vício. O que você vai fazer? É sentimento.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ápice

Rita Lee no volume máximo, olhos pesados de sono encarando o espelho, pijama desgrenhado no corpo, voz cantando baixinho versos que não ouvia há muito tempo. Papéis aqui, apostilas acolá, livros "abandonados" em um canto do quarto, DVD's esperando ansiosos para assisti-los.

(Bocejo)

”no escurinho do cinema, chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz…” Rita canta ao fundo. E lá vem a nostalgia, o riso frouxo e a voz desafinada cantando junto.

(1 suspiro confuso, triste, cansado)

Melodia enche o quarto de amor, anima até a dançar.
Mas o amor, ah, o amor, sobrou até pra ele… por hoje, ele não aceita a dança, fica sentado apreciando. Só quer saber de ficar quietinho, de repouso, no silêncio, para evitar que acabe, esperando respostas (mas ele sempre volta, feroz, leve, pleno)

É bom acreditar que volte...

Ah, como a vida cansa! Cansa até de cansar…
Cansa para o descanso ser valorizado, para o amor ser testado, para um degrau da tolerância, a tal virtude tão almejada de todos, a gente subir.

(com dificuldades, desequilíbrios, palavrões, mas, um a mais sendo deixado para trás)

”Para o resto da vida, sou extremo…”

E até intensidade cansa, até intensidade, Rita.

(ZZZZzzzzzzzzzzzZZZ)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Calo por amor

Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.

Tem frases que escrevo e que me perseguem. É sério: eu as escrevo penso que me livrei, e de repente a frase ressurge como se fosse a primeira vez que... o que? Que a escrevi, que a ouvi, que a pensei? Não sei. Frases assim são como pedaços de real que passam por mim, me cortam, mas que não são minhas. Elas me atravessam e deixam essa marca que não cicatriza nunca, que sangra a cada vez que penso, que ouço, que escrevo.

Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.

Como assim calar por não poder falar tudo? É justamente por não conseguir falar tudo que eu falo. Falo, penso, escrevo, defino, grito, tudo tentando dizer o máximo que eu puder. Amor? Aí mesmo é que eu não me calo. Praticamente tudo que eu falo tem a ver com amor. Escrevo amor amor amor amor milhares de vezes tentando alcançar, entender, descobrir, saber o que é esse tal de amor que tanto me perturba. 

Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.

Curiosamente lembrei agora de um dos primeiros textos que ainda menina eu escrevi e reclamava de me calar por não saber falar de amor. E respondi à minha reclamação dizendo que o problema é que eu só falava do que sabia e organizava, e que era impossível organizar o amor. Parece-me que daí em diante, resolvi que ia falar sobre amor até aprender. Então escrevi o amor em prosa e poesia, realidade e fantasia, felicidade e agonia, e ainda assim não entendi. Não entendo, não aprendo, continuo não sabendo.

Calou-se. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que se diz quando se fala de amor.

E então, agora, esse calar. Que depois de tantas repetições (na minha cabeça e na tela do computador) me atinge de outra forma. É um calar diferente do calar por não saber ou do calar por conformismo de que não entenderei jamais o amor.  Calei, no dia em que escrevi essa frase pela primeira vez, por me submeter ao fato de que não poderia explicar, e nem dizer tudo sobre o amor. Que mesmo tendo muito a dizer, mesmo tendo todas as palavras existentes e inventadas à minha disposição, ainda assim sobraria  a falta. A falta, que é o que faz do amor, amor.

Calo-me agora. Não por ficar sem palavras ou não haver mais nada a dizer, mas porque não há como falar tudo que digo quando amo. E é por isso que ainda amo. 



segunda-feira, 25 de março de 2013